SAÚDE

Segunda Feira, 09 de Setembro de 2013
 
Bactérias podem ser arma no combate à obesidade

Fonte:http: http://www.bbc.co.uk
James Gallagher
Repórter de Ciência e Saúde da BBC News 

Intestino contém trilhões de bactérias que ajudam na digestão
Um estudo americano mostrou que bactérias que vivem em nosso aparelho digestivo podem contribuir para a redução de peso.
As bactérias estudadas fazem parte de um grupo de milhares de tipos de micróbios que afetam nossa saúde.Uma experiência em laboratório revelou que camundongos engordavam ao receberem bactérias do aparelho digestivo de pessoas obesas.
O inverso também foi comprovado: ao receberem bactérias de pessoas magras, as cobaias engordaram menos.
A descoberta feita nos Estados Unidos foi divulgada na prestigiada revista especializada Science.
Gêmeos
Os pesquisadores da Escola de Medicina da Washington University in St. Louis, no Estado americano do Missouri, retiraram bactérias do aparelho digestivo de pessoas gêmeas com uma característica peculiar: um era gordo e outro era magro.
As cobaias que receberam a bactéria do gêmeo obeso ganharam peso e acumularam mais gordura do que aquelas que receberam a bactéria do gêmeo magro.
Os cientistas utilizaram apenas camundongos que foram criados em ambientes estéreis, garantindo a ausência de qualquer bactéria intestinal antes do estudo.
Fezes, fibra e gordura
Um desdobramento interessante ocorreu quando dois camundongos que receberam tipos diferentes de bactérias foram colocados no mesmo ambiente. Nesse caso, os dois permaneceram magros.
Como as cobaias comem as fezes umas das outras, os animais que receberam, no princípio, a bactéria do gêmeo obeso, acabaram adquirindo a bactéria do gêmeo magro por meio de suas fezes, o que os ajudou a permanecer saudáveis.
Isso ocorreu, porém, apenas quando os dois camundongos recebiam uma dieta com pouca gordura e muita fibra. Quando submetidos a uma dieta rica em gorduras e pobre em fibras, os dois ganharam peso.
O estudo encontrou diferenças no modo como os dois tipos de bactéria - a do gêmeo magro e a do gêmeo obeso - agiram ao digerir fibra e gordura.
De modo geral, as bactérias intestinais do gêmeo magro se saíram melhor ao digerir fibras, levando ao surgimento de ácidos graxos.
Isso significa uma produção maior de energia no processo, com substâncias químicas prevenindo o depósito de gordura adiposa e, ao mesmo tempo, aumentando a quantidade de energia gasta.
Entretanto, a dieta também foi importante para criar as condições ideais para que a bactéria do gêmeo magro pudesse se proliferar.
Por isso, cientistas acreditam que uma terapia de emagrecimento utilizando bactérias intestinais não funcionaria caso o paciente seguisse uma dieta rica em gordura.
Terapia em humanos
Um dos cientistas responsáveis pela pesquisa, Jeffrey Gordon, ressaltou a influência das bactérias do aparelho digestivo na dieta das pessoas.
"Nós não jantamos sozinhos, nós jantamos com trilhões de amigos - nós temos que considerar os micróbios que vivem em nosso intestino", disse.
Apesar disso, especialistas não acreditam que o transplante de milhares de bactérias de pessoas magras venha a ser uma terapia de emagrecimento viável, devido ao risco de se transportar doenças no processo.
Seria mais provável o transplante de um grupo exato de bactérias que favoreçam o controle de peso - e o uso de alimentos que favoreçam sua proliferação no intestino.
Gordon afirma que o próximo passo seria o de "tentar determinar o quão generalizados são os efeitos destas bactérias e que alimentos podem favorecer suas atividades no organismo".
Ele ainda ressalta que devemos "dar um passo à frente e passar a considerar os alimentos em face dos micróbios que vivem dentro do nosso intestino".
Ao comentar a pesquisa, Julian Parkhill, do Welcome Trust Sanger Institute (um importante centro de estudo do genoma humano na Inglaterra), disse esperar um futuro em que a "prescrição" de bactérias para tratar a obesidade seja comum.
"Existe muito trabalho a ser feito, mas isto [o estudo nos EUA] é uma prova de que as bactérias podem controlar a obesidade em adultos", afirma.
Ele ainda pondera: "Esta é um área muito promissora, mas precisamos ser cautelosos ao promover isso como uma cura para tudo".


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Gestão é o remédio que a saúde precisa


Pílulas


Natalia Cuminale

Criado em 1988, o Sistema Único de Saúde tinha um objetivo claro: universalizar o atendimento aos brasileiros, que, em troca, pagam altos impostos. Como é de conhecimento público, não foi isso o que aconteceu. Passados 22 anos, usuários enfrentam filas e esperam meses e até anos para conseguir realizar uma cirurgia eletiva - os procedimentos não emergenciais. Seria ainda pior se parte da população - 26,3% - não tivesse abandonado o SUS, pagando um valor extra por planos privados de saúde.
Especialistas são unânimes quanto ao remédio que poderia curar o SUS: mais dinheiro. Nas contas de Ligia Giovanella, pesquisadora da Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca, ligada à Fundação Oswaldo Cruz,o Brasil precisaria ao menos dobrar os recursos destinados ao setor. Mas não é fácil, uma vez que boa parte do Orçamento federal é comprometida com outras despesas. E não é tudo. Além de mais dinheiro, o SUS precisa de mais gestão. "É necessário um reordenamento do destino dos atuais gastos, priorizando o investimento em setores que dinamizem o setor", diz Lígia Bahia, professora de Saúde Pública da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
O desejado choque de gestão deveria começar pela própria administração do sistema, defendem especialistas. "Os gestores do SUS são, em sua maioria, indicados por motivos políticos, mas a saúde é uma área que requer conhecimento técnico amplo em todas as etapas: planejamento, execução e avaliação dos resultados", diz Newton Lemos, consultor em Serviços de Saúde da Organização Mundial da Saúde. "Não é uma coisa que qualquer profissional – que não de carreira – pode fazer".
Outro alvo de mudanças seria o programa Saúde da Família, que fornece atendimento básico à população previamente inscrita. Atualmente, apenas 50% das famílias brasileiras fazem parte do programa - o ideal seriam 80%. Atender mais gente demandaria mais médicos, estrutura e, portanto, recursos? Óbvio. Contudo, nas contas dos especialistas, o investimento seria compensado pela economia advinda dos frutos do atendimento preventivo. Por exemplo: ao invés de um cidadão procurar um hospital quando já se encontra doente, o que demanda um tratamento caro, ele receberia cuidados permanentes e prévios.
"Estender o acesso ao médico da família é uma estratégia importante", afirma Gastão Wagner de Souza, professor da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e ex-secretário executivo do Ministério da Saúde. "Cidadãos inscritos nesse programa recebem atendimento clínico, o que diminui a busca desnecessária por especialistas e a realização de exames. Você gasta menos, com resultados melhores".
Por fim, nunca é demais lembrar: em matéria de dinheiro público, é preciso endurecer a fiscalização dos gastos. "Precisamos fortalecer os conselhos de saúde, que exercem tal controle", completa Maria Fátima de Souza, coordenadora do Núcleo de Estudos em Saúde Pública da Universidade de Brasília (UnB).
Curar o SUS deverá ser uma tarefa cada vez mais importante nos próximos anos. Isso porque é provável que parte da classe média, que atualmente, conta com planos privados, migre para o sistema público. Segundo projeção realizada pelo Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec) e pelo Procon, se mantidos os atuais níveis de reajustes de mensalidades nos próximos 30 anos, as tarifas deverão subir mais de 120% acima da inflação medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). É verdade que a maior parte dos planos são custeados parcialmente pelas empresas. Contudo, é provável que aumentos como os estimados pelo Idec/Procon não sejam assimiláveis nem mesmo pelas companhias.
Há algumas altenativas ao sistema, menos uma: a criação de mais impostos para alimentar a saúde - a exemplo do que ocorreu no passado com a CPMF. "No curto prazo, os políticos que só pensam em seu mandato encontram resultados com a medida. Mas, no médio e longo prazos, é preciso lembrar que novos tributos diminuem o crescimento econômico", explica Marcos Bosi Ferraz, diretor do Centro Paulista de Economia da Saúde, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).

Texto extraído do site: www.veja.abril.com.br